sábado, 11 de fevereiro de 2017

Árvores da Gestação Maldita

             O ídolo talhado de olmo foi posicionado sobre um tronco morto pelas santas mães. Deram ao errante olhares solenes, distanciando-se cada uma com passos furtivos e cabeças baixas.
Eventualmente entregaram-lhe uma manta parecida com a que cada ídolo trajava. Gralhas empoleiravam-se nos pilares, mas seus crocitares estavam ausentes. A lua assomava o centro de festividades como um dos infindáveis olhos do Mensageiro de Além das Estrelas. Os anões fizeram o seu serviço, e abandonando o perímetro deixaram o errante a sós com Ela.

             Vossa Graça veio dos nervos e dos tendões da Prostituta. As árvores ao redor fenderam-se num ruído ensurdecedor que parecia jamais findar, sangrando sangue humano enchendo a Praça numa inundação escarlate, que buscava Ela com qualquer volição maldita. Aquele ser da floresta estava buscando constituir uma forma que lembrava o errante de coisas jamais conquistadas na velha, porém efêmera peregrinação do homem, o que atribuiu genuinidade à fundação de todos os presságios.

             E Ela deu-lhe permissão.

             – Heyu karie tol man hu juläa he.

             Enquanto o errante procedera a segurar sua cintura, Ela destruiu a coerência de sua forma para adentrar violentamente nas lacerações que as santas mães haviam lhe feito no ritual de antecipação. Ele, tolo, sentia os seus órgãos e ossos sendo atravessados de forma contínua, o que doía horrivelmente.

              – Sine koriu... Sine koriu... Mãe, mãe, venha até mim. O leite está azedo... a carne está apodrecida... Sine koriu... – Este cântico das santas mães e dos anões não lhe era familiar.
O errante ajoelhou-se, ofegante. Além dos sussurros e dos cânticos nefastamente manifestados tudo ainda era pleno. "Sie kahyari! Sie kahyari!"

                – Vossa Graça...

                – Não. – disse ela. – Você pensa o contrário, mas não tenho a força para ouvir o que você tem a dizer, observador de seus genitores; os troncos centenários e a massa de terra que os sustentam. Vamos logo terminar, pois assim deves obedecer à tua eternidade.

                Vossa Graça deixou o corpo do errante, assomando o altar onde estava disposto o cadáver da Prostituta, deixando que a luz lunar atravessasse-a. O rio de sangue ao redor jorrou vigorosamente em direção a ela cuja forma constituía-se mais verdadeiramente. Dentre o líquido surgiam pedaços de carne.

                – Sine he liea.

                – É verdade que... – murmurou o errante.

                – Sim, é verdade. Sie yime nokilu Szaracwa.

                Ela tornou o rosto aos céus, seus olhos arregalados. Em sua forma completa, o errante havia notado um perceptível volume em seu ventre. Oh, não...

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