quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Enfim...

A imundície, tocada, toma inéditas formas.
Tenho de fazer uma pergunta. Eu posso ser cauteloso. Você já sentiu medo do nada?
Há velhas "respostas" à pergunta. Há novas. Há respostas? Não duvidaria que sim, elaboradas ou não. Intrinsecamente pessoais ou não. Nota-se que de forma alguma sequer insinuo sobre fatalidades. Minha questão não ressona contigo? Eu entenderia. O nada está fora do alcance do ser humano – um dos feitos heróicos de Deus. Humanidade versus os lobos, e lobos versus a humanidade.
Deixe-me dizer. Além da luz fosca o incompreensível vem em camadas, e há uma espécie de nada que me tocou. É verdade que vocês, anfitriões, temem o desconhecido por natureza inerente, e suspeito que seja alguma forma de vazamento disso que me envolve em vosso plano, o que em teoria não deveria acontecer. Há um tipo de não-existência que engloba o que foi descartado, maculado, consumido, expurgado. Tento não refletir demais sobre ela, temente de rompimento da consciência, sendo racional ou não tremer sob o cenário. Contudo, a partir de minha experiência, eu posso identificar aqui muito, muito mais que nada, ainda que não... possa.
Você me entendeu?
Você entendeu a mim?
E então tem surgido certa inquietude. Não posso culpá-los, mas é o que faço! Deus… Por que trancar as portas à noite? Após tudo que tocou a Terra, todos tiveram expectativas que não foram respondidas. Se um dia eu necessitasse de lar, eu primeiro me jogaria à linha de frente para travar todas as lutas necessárias para livrar todo mal que ameaçasse qualquer coisa sob meu teto.
Era um... dia. Chuva pendia dos céus, produzindo um som serrilhado grotesco. Eu havia vazado. Algo de mim estava onde já há muito tempo não pude. O que se sucedeu então foi um desprazeroso (contudo, não coloco-me a negar, sensual) matrimônio com o velho palpável, as crias da relação já a obter idade, seus lugares no mundo... Foi bom ver consequências de qualquer coisa que eu pudesse fazer, o quão limitadas fossem.
E foi divertido. Descobri a facilidade de assolá-los, tão pouco era o contato de vocês com o meu nada. Ódio é, digamos assim, uma besta tão facilmente cativada. Ela só precisa comer regularmente.
Atrocidade, tamanha palavra fatalista, e consequência. Pulverização de carne, osso e alma é o reboque das paredes Daqueles que já obtiveram lar.
Uma vez, fiz uma vítima. Já havia descoberto até onde a minha influência poderia macular as coisas e trazê-las aqui. Ela não sabia se gritava até rasgar os pulmões, que já estavam condenados às minhas vontades, ou rezava ao onipresente Deus. Enquanto rasgava-se pele, estripava-se fígado, vísceras, intestinos, eu me deparei algo que ou havia muito tornado-se sobrenatural a mim, ou havia por volição própria feito-me esquecer. Naquele corpo, tais coisas como o útero significavam o poder da perpetuação do ciclo, já tão pretérito a mim, mas, como uma analogia maldita, fecundou-se nos meus planos uma ideia.
Vontade era algo morto, sublimado àquele que veio a existir – Deus. Até certo ponto, Eu. Ela, disposta a ceder corpo e alma, poderia dizer, a certo ponto de vista, que tornou-se parte de mim.
Isto é alguma espécie de misericórdia? Ou alguma espécie de castigo? A liberdade que senti, já alheio à significância da resposta que poderia existir à indagação, foi doce e inspiradora à sucessão do meu destino.
Não mais me submeteria a negar a singularidade que meu ser tanto possuía quanto viria a possuir. Uma poesia é, para ti, o que também é para mim. Tem sido assim desde a minha primeira infância.
Eu guiei uma. Não muito diferente de seus semelhantes. Por murmúrios quietos e alienígenas, a mensagem do meu Pai pôde ser passada, e os dois, claro, abordaram-se intimamente. Então logo eu já poderia sentir a eminência do sangue. Ele só poderia ter uma cria; não haveria coisas como irmãos. Não haveria coisas como diversidade. Apenas Eu brotava de sua semente particular, estranho como isso soasse.
As ruas pavimentadas serão praças de audiência. O filho nos braços da mãe traçará a primeira rota, enquanto eu trarei revolução. Esta evolução pode fornecer coisas do meu já não-lar à casa de Deus, mas já sou alheio a isto. A tudo isto!
Como Jesus Cristo fui muito notado no meu segundo advento. Tenho o sentimento de que não será muito diferente com este terceiro.

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