O último andarilho subiu em passos largos a encosta do penhasco, sentindo frio.
Quando encontrou a guardiã invernal do norte, sentiu que forças sobrenaturais começavam a intervir. A cerejeira estava branca de neve, suas doces folhas esvoaçadas por outrora. Aquele lugar havia sido pintado de branco com as frias lágrimas congeladas de um deus e a gélida, melancólica beleza da Mãe Terra em desolação era de fato uma formidável paisagem para ser a última a ser vista antes da transição.
Aproximou-se da queda; o horizonte se mostrou tímido, oculto sob um manto branco de segredo. Poderia ter sido seu último vislumbre, mas a pessoa sentada à sombra da guardiã acabou por tomar a sua atenção. A serenidade que enaltecia enquanto lia aquele pergaminho foi fria, ainda que aconchegante ao último andarilho.
– O que você vai fazer? – disse, seu rosto pálido emitindo um semblante indecifrável. A pergunta, por algum motivo, não parecia de todo dirigida a ele, portanto o andarilho nada respondeu, notando que presença daquela pessoa não era a mesma presença que uma pessoa comum poderia dizer ter.
Com uma epifania sobre si, deixou que as lágrimas enveredassem sobre sua pele, enquanto se distanciava da terra ao mesmo tempo que do céu que a coroava.
A queda foi fria, mas não do tipo de frio que congela, e aquele espírito, gélido, quieto e deslumbrante como o viajante branco que era rodopiou, dançou no ar e sorriu, o errante incapaz de discernir as distâncias entre si e ela e o que a sua presença significava para aquele ser translúcido. Não obteve certezas até mesmo quando alcançaram aquele infindável azul, o que fazia sentido para ele, na verdade.
Mas o que último andarilho não soube realmente – a questão que mais lhe fascinava e lhe escapava das mãos, era se naquele momento havia alcançado o mar ou o céu.
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