Tremor era a resposta do corpo do detentor à excruciante carícia dos ventos gélidos, uma fútil adversidade. Sua solução para isso era elementar: segurava firme o punho da espada – o símbolo Deles – e orava em direção aos céus repugnantes e aos seres selados além deles.
O frio das terras desoladas temperava a sua angústia. O detentor viajava e carregava o seu fardo. Não acreditou e não acreditava, e se acostumara com isso. Não era capaz de aceitar o que uma voz retumbante nas câmaras do seu ser sugeria constantemente – sobre os homens que vieram a se tornar seus amigos, seus parentes, e o que ainda estava por vir; com as entidades. Seus pensamentos não se ordenavam e nem fazia questão de tal luxúria.
– Aqui...
Impôs urgência sob seus passos. Os Montes de Éter estavam tão próximos, e já era como se estivesse no fim. Sobre seu espírito carregava uma ordem, sob o seus pés neve, e entremeado nesta dicotomia entre substância e existência negada pensava que era uma contradição muito acentuada estar a ser levado por uma motivação que o carregava por uma grande massa uniforme de um quase nada absoluto e opressor.
E esta busca eventualmente obteve sucesso em si - o cadáver. Sabe-se lá quanto "tempo" havia durado. Ela estava circundada dos restos também putrefatos daqueles que em todos os sentidos da palavra "presente" estiveram em sua vida. Festejaram e juraram esperanças com gargalhadas e afetos, mas partiram com tristezas doces estampadas nos semblantes. Sequer estiveram em algum lugar ou eventualidade que houvesse honrado tudo isto. Isto apertou o coração do detentor.
Posicionaram-na sentada; dobrava-se à cintura, o dorso em direção aos céus. Um trabalho hediondo se apresentava sobre suas costas: duas largas e grotescas asas concebidas pelos membros costurados dos cadáveres mutilados ao redor. Sabem deuses o que fizeram com suas asas verdadeiras, aqueles doces conjuntos de penas brancas que traziam-nos próximos aos céus.
Não adiantava. Não havia prece, superstição, deus, qualquer coisa que o fizesse resistir. Já estava a ser pior do que pensava.
O nome do detentor ecoou em monocórdio dos cadáveres semimortos. Todos, agonizados, disseram algo a ele.
– Filho, – então a voz soou... – Vergonha é o teu agouro.
O detentor cortou a garganta de todos com um cajado rodeado de lâminas retorcidas. "Misericórdia Do Inominável". A dor de cada grito expandia o estranho oco que se instalara em si. Enfim esteve de olho a olho com ela uma última vez.
– Você havia tornado o mundo um lugar melhor.
Este último rompimento de laço foi... o suficiente, ou algo muito, muito longe de suficiência. Aquele homem com o espírito retalhado cerrou seu par inútil de janelas ao mundo, parando para sentir a peregrina corrente que antes sussurrara apenas aquele proeminente frio. Agora os sussurros já não mais pareciam dizer qualquer coisa, pois este era o fim de todas as coisas conhecidas.
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